terça-feira, 28 de abril de 2020


PANDEMIA E ECONOMIA
Os empresários estão preocupados, uma vez que a pandemia que grassa por todo o mundo trouxe consigo uma grande recessão, o mundo está parado, em tratamento e os negócios estão em risco. Isto é um facto, a somar aos problemas do contágio, do Serviço Nacional de Saúde, dos empregos, falta de rendimentos das famílias e das instituições para suprirem as necessidades da comunidade.
Vivemos em sociedade, precisamos uns dos outros e, se a sociedade está em crise todos nós estamos com problemas, não apenas os empresários.
O Senhor Miguel de Sousa, empresário e político, escreveu no DN que é preciso muito dinheiro para as empresas sobreviverem. E mais: diz que o lay-off faz transferir para a Madeira 50 milhões de euros do Orçamento de Estado a fundo perdido. Então o dinheiro do OE não é dinheiro dos nossos impostos? Tão necessário para as necessidades de todo o Povo Português! Parece que estas palavras saem da boca de alguém que só pensa em gastar ou como se o dinheiro do OE estivesse lá a refilar todos os dias. Desde que não seja do Orçamento Regional pode-se gastar à fartazana. Pensa certa gente como o Senhor Miguel de Sousa.
Diz ele que muitos empresários fazem muitos sacrifícios. É verdade que alguns, que de empresários só têm o nome, sobretudo os que trabalham por conta própria, vivem com dificuldades, sobretudo no momento presente. Mas não se pode generalizar. O Senhor Miguel de Sousa e outros como ele deveriam experimentar trabalhar por conta de outrem, ganhar o salário mínimo e aprender o que é fazer sacrifícios.
Outro assunto que este senhor abordou é situação dos partidos políticos. Ataca os partidos de esquerda, uma vez que pertence ao PSD – partido da direita. Chama parasitas de esquerda que nada produziram e andam na política para se elegerem a si próprios. Um indivíduo que tem protagonizado lutas políticas para ser eleito e ter a veleidade de escrever afirmações destas, o que pensa dos leitores? Que somos todos ignorantes? Estúpidos? E ainda chama parasitas aos políticos de esquerda! Seria melhor que olhasse para a Fundação Social Democrata - PSD, que recebe muito dinheiro da ALM e, segundo veio a público há alguns anos, devia milhares de euros de água e electricidade e também à Empresa Horários do Funchal. Quem são os parasitas? Os políticos da esquerda ou os do PSD?
Segundo a Comunicação Social, alguns países não apoiam as empresas que levaram dinheiro para os paraísos fiscais e está muito certo. Vão buscar o dinheiro que possuem e segurem as suas empresas em vez de exigirem do Orçamento de Estado. Esta medida deve ser aplicada em Portugal e estendida às empresas que vão pagar impostos no estrangeiro. Se não contribuem para o Orçamento de Estado não têm o direito de beneficiar dele.
Conceição Pereira
               Este texto foi publicado no Diário de Notícias da Madeira no dia 24/4/ 2020  

sexta-feira, 24 de abril de 2020


A EMOÇÃO DA LIBERDADE

O rouxinol cantou
Naquela madrugada sempre querida
E todos nós acordámos
Estremunhados
Admirados
Atordoados
E saímos
Ouvimos músicas, canções
Gritos e Pregões
Misturados com flores e alegria
E juntos demos a mão
E aprendemos a canção

E todos soubemos cantar
declamar
abraçar
beijar

Só os duros de coração
Não aprenderam a canção
E nunca viveram a emoção
Do sentir
Da partilha
Do saber viver com os irmãos

Mas nós
Os que aprenderam a canção
Ainda somos capazes de sentir e de viver
A grande emoção da LIBERDADE

                                                           in  A Vida em movimento
                                                            editado pela Cooperativa Operária Camponesa-COCAN 1998 

quinta-feira, 23 de abril de 2020




Hoje é o Dia Mundial do Livro. Como não tenho dinheiro para publicar mais um livro, vou colocar aqui o 1º episódio de um livrinho que escrevi há anos.

A COROA DO PICO
Margarida vai à escola
Margarida acorda, abre os olhos e olha através da vidraça. As folhas da vinha começam a amarelecer. O sol já começa a aparecer lá no alto das montanhas. O melro poisa no peitoril da janela, entoa o seu trinado e levanta voo. Margarida segue-o com a vista até ele poisar na parreira grande.
A vista espraia-se pelos telhados, vinhas e encostas. “Que farão os pássaros lá no alto da Rocha Branca?” – Pensa Margarida – “Com certeza vão cumprimentar aqueles senhores cinzentos que estão sempre de pé”.
Todas as manhãs, aconchegada entre os cobertores da cama, a menina observa aquela paisagem. O que mais a fascina é a Coroa do Pico. Aquela montanha escarpada, vertical, terminando em bico pelo céu dentro, desperta-lhe desejos e aguça-lhe a curiosidade.
“Se eu pudesse ir até à Coroa do Pico, talvez de lá pudesse tocar com a mão no céu. Gostava muito de ir à Coroa do Pico.” – Pensava ela.
-Margarida, levanta-te. Tens de ir para a escola.
-Que horas são, avó?
- Já passa das oito. Despacha-te para não chegares tarde à escola.
Margarida levanta-se à pressa. Nem pensar chegar tarde à escola.
“Tenho de me despachar. Daqui a pouco está aí a Rosalina e eu ainda não me calcei…”
- Estás pronta, Margarida?
- Já vou, Rosalina. Espera por mim. Já estou a calçar os sapatos.
Todas as manhãs, Rosalina passa na casa de Margarida e as duas amiguinhas encaminham-se para a escola, de bolsa a tiracolo.
- Fizeste a cópia, Margarida?
- Eu fiz. Tu não fizeste?
- Não. Minha mãe não me comprou o caderno. Diz que não tem dinheiro e o vendeiro não fia cadernos.
- E o que vais dizer à senhora professora? Ela vai zangar-se!
- Achas que ela me vai bater?
- Não sei. Talvez não.
- Meninas, - diz a professora de cima do estrado – vamos à lição da tabuada. Hoje é a tabuada dos três.
Margarida encolhe-se toda. Detesta aquela coisa da tabuada, mas vai repetindo baixinho: “três vezes um, três; três vezes dois, seis; três vezes…três vezes… Se eu tivesse três vezes cinco tostões, comprava amêndoas, figos e rebuçados.
- Margarida, três vezes sete?
- Três vezes sete… vinte e quatro.
- Toma, que é para estudares melhor as lições.
A menina não chora, apesar de sentir aquele ardor da palmatória que lhe queima a mão. Encosta-se no seu cantinho, muito triste, à espera que acabe o suplício da tabuada.
Entretanto, a Bernardete, que também não sabe a tabuada, faz momices para as meninas rirem no banco do fundo.
Mas a lição da segunda classe ainda não terminou. Agora, cada uma tem de dizer os dias da semana. Margarida está entusiasmada. “Nenhuma sabe tão bem os dias da semana como eu”.
- É a tua vez, Margarida, Sabes os dias da semana?
- Sei, sim, senhora: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado-frade e domingo-freira.
- Quem te ensinou isso, Margarida? – Perguntou a professora.
- Foi a minha avó.
A professora riu com gosto e toda a escola a acompanhou. Margarida é que não achou graça nenhuma àquilo. Riam-se dela! Ela sabia os dias da semana melhor que as outras!
De volta a casa, um pouco cabisbaixa, pergunta-lhe a mãe:
- Então, Margarida, que tal foi a escola hoje? Soubeste as lições?
- ‘Inda me enganei.
- Então ontem à noite sabias tão bem?!
- Foi a tabuada. A senhora professora perguntou salteado…
- E as outras lições?
- Há uma coisa que eu não entendo. Soube os dias da semana melhor que as outras e riram-se de mim! Até a senhora professora!
- Olha lá, quem sabe se tu disseste aquela cantilena que a avó te ensinou há dias?
- Pois foi. A avó disse que era assim.
- Ó filha, a avó diz aquilo em casa, a brincar, mas na escola não se diz assim.
Agora é que Margarida estava confusa. Afinal, há coisas para dizer em casa e outras diferentes para dizer na escola?!
Fez-se amuada, mas daí a pouco já cantava, espiava os melros e as pombas e admirava a Coroa do Pico.

terça-feira, 7 de abril de 2020


SENHOR VIRULENTO

Encontrei o senhor vírus
No muro do meu quintal
-Então, senhor virulento
O que é que faz por cá?

Vim fazer uma visita
A um sítio espectacular
Com bananas e papaias
Pitangas e abacates
Anonas bem perfumadas
Quero me deliciar

Alto aí, seu virulento
Não aumentes pandemia
Não me tragas mais doença
Como fazes noite e dia

Não sou eu que faço mal
Olha que eu sou bonzinho
Meus irmãos andam doentes
Deixam mal pelo caminho

Essa conversa é antiga
Culpar os outros e fugir
Eu sei bem o que fazer
Já te começo a aspergir

Lixívia pura da loja
Com um pouco de vinagrete
Ai Ai Ai não me persigas
 Estás feita num diabrete

Sou diabrete contigo
Pra defender este sítio
Da pandemia do tempo
Que nos mata e contagia

E lá está o virulento
Caído no meu quintal
Este já não volta mais
A fazer o mesmo mal
7/4/20                                                                                                                               






quinta-feira, 19 de março de 2020

ESTÁ NA HORA DE PARAR E PENSAR

A vida humana está em risco. Um ser minúsculo que não podemos ver a olho nú persegue-nos por toda  a parte. Acabo de saber que foi identificado o 1º caso de coronavírus na Madeira. Uma turista fez o teste e deu positivo. Estivesse o aeroporto fechado e não estaríamos já nesta situação. Quantas pessoas esta turista já infectou?  Veio num avião, passou em aeroportos, cafés, restaurantes e foi espalhando o bichinho que nos ataca manhosamente.
Muitos e muitas madeirenses estão sedentas por dar abracinhos a filhos e outros familiares, sem pensarem que podem correr risco de vida. O bem mais precioso que temos é o dom da vida. O resto é o que conseguimos ao longo da vida, enquanto temos vida.
A Humanidade está em risco: os pobres e os ricos, os bispos e os leigos, os saudáveis e os doentes, os pretos e os brancos, os milionários e os sem-abrigo. Estão a ouvir? Estamos todos no mesmo barco, porque somos todos da raça humana.
E não vale a pena se pôr em bicos de pés, porque o vírus ataca os mais altos e os mais baixos.
Pede-se responsabilidades a todos os cidadãos e a todas as cidadãs porque estamos todos em risco. Está muito certo. Mas, quando as águas estão calmas, poucos se responsabilizam pelos mais frágeis, infelizes e pobres.
Em momentos como este é que damos valor à solidariedade, ao respeito pelos outros, à sensatez e ao Serviço Nacional de Saúde. O s que levantam a voz, de vez em quando, para clamar MENOS ESTADO MELHOR ESTADO, olhem para o que está a acontecer. O sector privado não trata os doentes infectados com o coronavírus. Esse tratamento faz-se nos hospitais públicos. MAIS ESTADO MELHOR ESTADO, digo eu.
A cada um e cada uma exige-se sensatez, respeito pelos outros, sair de casa para o estritamente necessário e seguir as regras que as autoridades civis e sanitárias nos recomendam. Quem furar as regras deve ser punido severamente, porque é hora de pensarmos em nós e nos outros e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para combater esta doença profundamente contagiosa.
Somos seres pensantes e não devemos agir como ignorantes e irresponsáveis.
Conceição Pereira


quinta-feira, 12 de março de 2020


DIA INTERNACIONAL DA MULHER
2020

Qual a razão de celebrarmos o Dia da Mulher?
A ONU decidiu há anos que o dia 8 de Março seria o Dia Internacional da Mulher, para que a sociedade faça uma reflexão, chamando a atenção para a falta de direitos que as mulheres não usufruem em relação aos homens e para combater a violência, a pobreza e a repressão sobre as mulheres em todos os continentes.

Os homens tomaram o poder nos primórdios da Humanidade. Uma corrente de pensamento afirma que seria pelo facto de os homens serem mais fortes e serem caçadores, que era a actividade mais nobre da época. Mas há quem diga que, nessa época, as mulheres eram as matriarcas, as chefes das tribos, porque eram as mães, davam à luz, amamentavam, cuidavam das crianças, dos mais fracos, do fogo. Seria a época dos matriarcados.
De toda a maneira, quando os humanos deixaram a vida nómada e pararam num lugar certo para cultivar terras e cuidarem dos rebanhos, passaram a ter bens e exigiram exclusividade sexual da mulher, para terem a certeza que os filhos eram seus e seriam eles a herdarem os seus bens.
Instituiu-se as famílias, foi interessante, viver em família, partilharem o produto do seu trabalho, mas as mulheres perderam todo o poder. Eram os pais-homens que recrutavam mulheres para os filhos e nasceu o contrato de casamento. Bem ou mal a mulher ficava presa àquele homem, obrigada a respeitá-lo, a dar-lhe filhos, tudo por obrigação.
As sociedades foram evoluindo e os homens, com o poder na mão, criaram regras. Inventaram a Eva, nascida da costela de Adão, levou Adão a pecar, e condenou toda a humanidade com o pecado original.
O antigo testamento trata as mulheres abaixo dos animais. Mandava apedrejar as mulheres adúlteras, mas os homens, com quem elas fizeram sexo, nunca foram considerados adúlteros. Pudera! Foram homens que escreveram estas regras!
“ O valor de uma mulher é de 3 quintos em relação ao homem”. Pode ler-se no antigo testamento.
“Estavam 5 mil homens, não contando mulheres e crianças” Novo Testamento
Durante um concílio foi discutido se a mulher teria alma ou não. Isto alguns séculos depois de Cristo.

A Humanidade saíu da Idade Média, que foi uma época de grande atraso civilizacional, mas os homens com poder faziam tudo para manter as mulheres no ”andar de baixo”. Um nobre, Cavaleiro de Oliveira, na carta de Guia de Casados de 1751, aconselhava os homens a casarem com mulheres bem novinhas, enquanto não ganhavam hábitos de autonomia.
E dizia “ Sou homem, pela graça de Deus, a minha nobreza é maior que a tua. Mulher instruída é como um bonito e dextro cavalo de circo ou uma
bela e rica arma. A sapiência na mulher deve ser regrada como o sal na cozinha.
Porém, por essa época, começaram a aparecer mulheres e até homens que defendiam direitos para as mulheres. E os machistas assustaram-se com medo de serem igualados às mulheres e até ultrapassados.
O filósofo Locke, defendia a liberdade natural do homem, mas nem os animais nem as mulheres participavam dessa liberdade, tinham de estar subordinadas aos homens.
Rousseau escreveu: uma mulher sábia é um castigo para o esposo, para os filhos, para toda a gente.
Kant afirmou: O estudo laborioso e árduas reflexões, destroem os méritos próprios do sexo feminino.
Como é que grandes filósofos daquela época acreditavam nestas barbaridades! O Feminismo começou a nascer e assustava os machistas.
Olympe de Gouges, em plena época da Revolução Francesa, escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. “ Se a mulher pode subir ao cadafalso porque não pode subir à tribuna? Ela subiu ao cadafalso, foi guilhotinada.
George Sand, também da época da Revolução Francesa, chamava-se Aurore Dupin, mas adoptou o nome George Sand, um nome masculino, para vender os seus livros, pois com o nome de Aurore teria dificuldade de vendê-los e ela vivia da escrita.
As Irmãs Bornte, escreveram muito nas suas vidas curtas e mandaram publicar com nomes masculinos. Quando o romance Jane Eire ganhou muita fama é que a Charllote Bronte disse ao pai que era a autora dessa obra e assumiu a sua autoria perante o público. Os romances delas mais conhecidos são “Jane Eire” da Charllote e o “Monte dos Vendavais” da Emily, mas elas escreveram muitos mais.
Maria Lejárraga, espanhola, nasceu em 1874 e morreu em 1974 e também escreveu muito. O seu lº livro, contos, foi recebido com tanta frieza e ela jurou que nunca mais publicaria nada em seu nome. Escreveu peças de teatro e para espectáculos vários, tudo em nome do marido, que ficou célebre como dramaturgo.
As feministas eram apelidadas de loucas e infelizes.
Em 1908, o jesuíta Alarcon escreveu que a emancipação da Mulher é aberrante e essas Euménides têm de ser encerradas em casas de correcção ou manicómios.
Em 1927, na revista Iris da Paz podemos ler: “A sociedade faria muito bem encerrando as feministas como loucas e criminosas”.
Dona Adelaide Coelho da Cunha, uma dama da alta sociedade lisboeta, deixou o palacete onde vivia com o marido e o filho para viver com Manuel Claro, que havia sido motorista na casa deles. Foi em 1918. Fez 100 anos em 2018. Amavam-se e quiseram viver o seu amor. O marido percorreu o país e, quando soube do seu paradeiro, foi buscá-la à força com autoridades. Levaram-na para o Porto para uma casa de doentes mentais. Quando ela lá chegou, encontrou uma ala desse manicómio cheia de mulheres saudáveis como ela. Estavam internadas porque desobedeceram aos maridos ou outros familiares. O Manuel esteve preso quase 4 anos e quando saíu foram viver o seu amor por cerca de 30 anos, até à morte da Dona Adelaide, com mais de 80 anos. Foi um final feliz porque ela desmascarou o marido através de um jornal e conseguiu a sua libertação.

Segundo Eduardo Galeano, Gustave Le Bom, um dos fundadores da psicologia social, disse que uma mulher inteligente é tão rara como um gorila de duas cabeças.
Foi muito difícil para certos homens que detinham estatuto superior admitir que as mulheres são tão capazes como os homens.

Fina d’Armada, no seu livro “Republicanas quase desconhecidas”, escreveu:
“Em 1910, as portuguesas não eram cidadãs, não tinham direitos políticos, não se podiam filiar em partidos ou associações masculinas sem autorização dos maridos, assim como precisavam dessa autorização para publicar trabalhos literários ou testemunhar em juízo. Também não tinham direitos sobre os filhos, não podiam gerir os seus bens, nem o salário da operária lhe pertencia. O que nós evoluímos em cem anos!

Na época do Estado Novo eram proibidas às mulheres ascenderem a alguns cargos:
Magistratura
Diplomacia
Altos Quadros da Função Pública
As mulheres não podiam passar a fronteira sem autorização do marido
Não tinham direito sobre os filhos.

Após o 25 de Abril estas regras foram abolidas.
O direito ao voto para todos os homens e todas as mulheres foi consagrado na Constituição da República
1976 - as mulheres passaram a ter direito sobre os filhos em igualdade com os homens-pais.
1976 – Abolido o direito de o marido abrir a correspondência da Mulher
Entretanto veio o direito ao divórcio para os casais, planeamento familiar, despenalização do aborto a pedido da mulher…
Mas estas conquistas não caíram do céu como a chuva e o granizo. Algumas mulheres, muitas vezes apelidadas de putas e outros epítetos, meteram-se à frente das lutas nos partidos, nos sindicatos, associações, cooperativas e fizeram avançar a História.
Mas a história não chegou ao fim. Ainda há muito para conquistar e conseguir a igualdade de facto. E não deixar que haja recuos. Basta haver uma crise para os saudosistas do passado puxarem para trás e deitarem abaixo o que já conseguimos.
Aliás, houve recuos sociais, as famílias têm muita dificuldade em adquirir casa própria, a falta de segurança no trabalho atinge muita gente trabalhadora, os salários são cada vez mais baixos em relação ao custo de vida e as reformas estão degradadas. E há muita gente sem direito a reforma, por diversas razões.
A mentalidade machista tem ganho terreno, o alcoolismo aumenta, a violência doméstica não pára e continuam a assassinar mulheres porque querem separar-se, porque vão viver outra vida para não se submeterem a maus tratos e eles, os machistas que se consideram donos de uma mulher, matam para que ela não seja feliz.
Uma jovem que em 2014 tinha 20 anos contou que o seu noivado acabou porque não obedeceu ao noivo. Ele não pôde ir à festa da freguesia e não queria que ela fosse. Mas ela foi e ele já não a quis, porque não seria uma mulher obediente. Quando mais tarde encontrou a mãe dele, a senhora disse-lhe: se ele não queria que fosses à festa não deverias ter ido. Ao que ela respondeu. Oh senhora, acho que eu já tenho 50 anos? Eu tenho 20 anos e quero me divertir. Foi esta posição que a libertou de uma vida oprimida com aquele homem. Actualmente já tem outro relacionamento e é mãe de um filho.

Conceição Pereira


domingo, 8 de março de 2020


DIA INTERNACINAL DA MULHER 2020
ÀS MULHERES DO MEU PAÍS
Mulher
Não deixes passar a vida
Pois só vives uma vez
E a vida passa depressa
Que um dia, quando acordares
E olhares para trás
O que é que encontrarás?
Não deixes espaços vazios
Nem marcas de silêncio cúmplice
Pensa em ti, na tua vida
Na vida de todas nós
E naquelas que hão-de vir
Não deixes passar a vida
Prende-a bem
Com alma, com coração
Sobretudo com a razão
Não te esqueças de viver
Pois só vives uma vez
A vida
É a nossa razão de ser
Existes. És vida
Vive. Pensa. Ama. Exige
Tens de ser amada. Tens de ser ouvida
Tens de estar presente na vida
Na casa, no trabalho, na política, na decisão
Não mais a passividade e a resignação
És um ser pensante, tens ideias, intervéns
E pesas nas decisões
Nada de seguir atrás porque te disseram: Vai!
Tu vais se decidires ir
Tu ficas se quiseres ficar
Tu amas e queres ser amada
Tu pensas e não serás anulada
Não mais a mulher-objecto
Não mais bibelot para homem se recrear
Não mais o teu corpo só para dar lucro
Não mais teu sorriso pra vender produto
O teu corpo é belo
Teu sorriso encanta
Mas é teu só teu
Não pra ser vendido
Não és gado bruto nem ave canora
És gente. És senhora
És uma mulher
Dás filhos ao mundo
Povoas a Terra
Trabalhas, produzes
E tens de ser gente
Ao lado dos homens
Que marcham contigo
E te amam assim
CONCEIÇÃO PEREIRA

In A VIDA EM MOVIMENTO editado pela Cooperativa Operária e Camponesa

Este texto foi publicado No DN da Madeira no dia 8/3/2020

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020


VACAS SAGRADAS

O PSD não teve maioria absoluta nas últimas eleições ao Parlamento Regional e viu-se obrigado a fazer coligação com o CDS que, tendo conseguido eleger 3 deputados, a somar com os do PSD, formou uma maioria absoluta. E assim o PSD conseguiria uma estabilidade governativa como estava habituado.
Porém, governar com dois partidos é mais difícil do que com um governo de um só partido. O CDS exigiu contrapartidas e aqui começam os problemas. Foi criada a Secretaria do Mar, mas rapidamente esbarrou com as jaulas da aquacultura. Foram com muita sede ao pote. Quando o povo viu que iriam instalar mais jaulas além das que já lá estavam entrou em contestação. E o que vai fazer o Senhor Secretário do Mar? Esperemos pelo desfecho deste imbróglio.
Outra exigência do CDS é a chefia dos directores de serviço do SESARAM. Quando os médicos do hospital, sobretudo os directores dos diversos serviços, ( que são quase todos homens pelo que se viu nas imagens), se viram confrontados com o Dr Mário Pereira como chefe, entraram em contestação. Esses médicos não aceitam o Dr Mário Pereira, dizendo que foi nomeado, o que é contra as regras, pois deveria ser eleito pelos seus pares.
Ora bem, o PSD já fugiu tantas vezes das regras em tantos anos de governo na Madeira e essas e outras pessoas nunca reclamaram. Nunca lhes tinha chegado ao pêlo. Mas o que os ditos médicos não admitem é que o DR Mário Pereira seja o seu chefe, uma vez que na Assembleia Regional, como deputado, denunciou tanta coisa que, segundo ele, se passa na área da saúde. AS VACAS SAGRADAS não podem ser denunciadas, confrontadas, atacadas. Não sei se o Dr Mário Pereira falou verdade ou não, mas sei que diversos dos seus pares no hospital também têm consultórios privados ou trabalham fora do hospital. Cumprem as suas obrigações em todo o lado? Talvez sim, talvez não.
A classe médica sempre foi muito poderosa. Tem na mão a vida das pessoas e possui um estatuto superior às outras classes profissionais. E há quem se julgue intocável. Sagrado. O médico Rafael Macedo, especialista em medicina nuclear, decerto falou demais, denunciou muita coisa e foi despedido rapidamente, sem apelo nem agravo.
O Dr Mário Pereira também falou, denunciou algumas coisas, mas não mencionou nomes e ninguém contestou as suas intervenções. No entanto, ficou marcado e não é aceite pelos seus pares. E criou-se o caos nos serviços do SESARAM.
O Dr Miguel de Sousa, em artigo de opinião no Diário de Notícias, escreveu que muitas pessoas estarão arrependidas de não terem dado a maioria absoluta ao PSD nas últimas eleições. E não haverá pessoas a pensar ao contrário? Alguns eleitores não estarão arrependidos de terem votado PSD e agora se virem confrontados com um serviço de saúde tão conturbado? Se pode pagar consulta no privado, lá se vai arranjando, de contrário, tem a sua saúde em risco.
Cada pessoa é livre de tomar as opções que quiser, mas não se livra das consequências que daí advêm.
Conceição Pereira
                              Este artigo foi publicado no Diário de Notícias da Madeira a 28/2/2020

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020


NATALIDADE E DESPOVOAMENTO

Actualmente, muito se fala na baixa de natalidade, uma vez que nascem poucas crianças e, por conseguinte, temos o envelhecimento da população.
A Costa Norte da Madeira está a ficar despovoada. Por um lado, nascem poucas crianças, e os jovens e até famílias inteiras deixam de viver nesses lugares por falta de empregos ou ocupações rentáveis que dêem segurança aos jovens para aí se estabelecerem, constituírem família e viverem em condições de dignidade aceitáveis.
E aí ficam muitas das pessoas idosas, por vezes sem familiares que os apoiem.
O Governo Regional dá algum apoio monetário quando nasce um bebé e existem apoios para as creches, livros e materiais escolares. Tudo muito importante. É suficiente? Claro que não, uma vez que a Madeira tem uma baixa natalidade que aumenta de ano para ano.
Imagine-se uma mulher empregada, com contrato a prazo. Ela sabe que, se engravidar, a empresa não lhe renova o contrato. É claro que essa mulher vai adiando a maternidade para quando tiver um vínculo laboral mais estável. Vai ser mãe muito mais tarde e, geralmente, já não tem condições para engravidar pela segunda vez.
Por outro lado, os salários são tão baixos que as jovens famílias vivem com muitas restrições, não podem comprar casa, as rendas são muito altas nos meios urbanos onde há possibilidades de emprego, gastam muito dinheiro em transportes e cada vez é mais difícil sustentar uma família com um ou mesmo dois salários.
Soubemos, há anos, que um banco (creio que era o BCP) nem queria empregar mulheres e, as poucas que lá entravam eram obrigadas a assinar o seu pedido de demissão sem data marcada. Caso uma engravidasse, era posta fora, justificando que fora a funcionária a pedir a sua demissão.
O mundo empresarial exige cada vez mais dos e das trabalhadoras que prestam serviço nas suas empresas. Até lhes chamam colaboradores, como se fossem lá uma vez ou outra fazer qualquer coisinha. No entanto, são os trabalhadores que criam riqueza para os patrões acumularem e crescerem a olhos vistos. Não é por acaso que Portugal é dos primeiros países de onde saem muitos milhões para os paraísos fiscais. Tudo em nome do capitalismo, que traz crescimento para alguns, mas não desenvolvimento. Cria muitos ricos e uma multidão de pobres.
A Costa Norte da Madeira precisa urgentemente de uma secretaria de agricultura que coloque técnicos no terreno a apoiar os que ainda lá vivem, distribuir, por exemplo, árvores de fruto que exigem menos esforço para fazê-las crescer e produzir, apoiar a produção de legumes e leguminosas e proceder ao seu escoamento. Os apoios existentes são pontuais e chegam a muito poucos agricultores. Talvez até fosse possível levar famílias de outros lugares que quisessem trabalhar na agricultura, com apoio das Câmaras e da Secretaria da Agricultura. Para isso teria de haver uma grande mudança nas pessoas e nas políticas a aplicar.
Estas são algumas ideias, muito minhas, que talvez ajudassem na fixação de famílias na Costa Norte da Madeira e um incentivo ao aumento da natalidade.

PS – Imaginem se o Poder Político promovesse um abaixo-assinado ou petição contra alguma medida da Igreja Católica. Logo ouviríamos tocar a rebate e o que diriam bispos, padres, beatos e beatas? Parece que ainda vivemos na Idade Média, em que o Papa de Roma tinha de dar a sua autorização na governação das nações. Até para a independência de Portugal foi preciso o Papa autorizar.
Conceição Pereira
                                    
 Este texto foi publicado no Diário de Notícias da Madeira no dia  20/2/ 2020


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020


O NOSSO QUOTIDIANO

Há quem diga que, ultimamente, temos vivido cenas de um filme que ganharia um óscar. Pois eu, talvez por ter visto tantos filmes a passar à minha frente nos meus 83 anos de vida, já pouco me admira. Um senhor que assina Manuel Pereira afirma que ninguém votou para isto e que lhe roubaram o voto. Cada um sabe da sua vida. De mim, o PSD nunca levou voto nenhum e não estou implicada nas jogadas deles. Mas era de esperar que o PSD, perdendo a maioria dos votos, se unisse ao CDS e vice-versa, pois assim saíram ambos a ganhar. Juntou-se a fome com a vontade de comer.
E a situação do povo madeirense como é que fica? Depois de tanto reclamarem que o Governo da República não cumpria a sua obrigação de ajudar a pagar o novo hospital da RAM, depois de tudo acertado em termos de verbas nacionais, li no DN que o “Concurso para fiscalização do novo hospital” não saiu do papel Claro! Há meses que os senhores governantes andam ocupados com lugares, cadeiras, nomeações e afins, de modo que não sobra tempo para o essencial. O nosso Serviço de Saúde vai melhorar? Pior do que já está não há-de ficar.
Nestes quarenta e tal anos de governo PSD já vimos de tudo: ameaças, pressões sobre a comunicação social ( ainda não esqueci as “Notas Oficiosas” proibindo jornalistas de publicarem notícias sobre esta ou aquela matéria), processos crime em Tribunal contra políticos adversários do PSD, tudo fizeram para segurar o poder. Criaram um corredor que vai da Rua dos Netos à Quinta Vigia e agora têm de descer a Rua da Mouraria e passar na sede do CDS. São as voltas da vida! Minguaram os votos, dá-se mais uma voltinha e aumenta-se a razão pela força.
Segundo vi na Comunicação Social, começou o julgamento do senhor Manuel António Correia, antigo secretário do Governo Regional. E os outros? Quem foram os responsáveis pela dívida escondida? Foi o “grande chefe”, ajudado por funcionários e pelo Secretário das Finanças de então. Vão responder pelos seus actos? Para nós sobraram as custas e os custos.
Tenho lido e ouvido alguns governantes regionais a reclamarem contra a greve dos trabalhadores do porto de Lisboa. Uma greve traz sempre prejuízos ou não serviria de nada fazer essa luta. É a arma que os trabalhadores têm, enquanto que os poderosos utilizam muitas armas contra os mais fracos. E os senhores do PSD, em vez de pedirem apoio ao Governo da República para intervir neste conflito, falem com o senhor Miguel de Sousa, uma vez que a empresa dos Sousas detém grande parte do poder no porto de Lisboa. Eles, os Sousas, podem muito bem dialogar com os trabalhadores grevistas, satisfazerem as suas reivindicações e fica tudo bem. Ganhariam menos um bocadinho, mas não lhes faz falta. Continuarão a ser muito ricos.
Conceição Pereira


Este texto foi publicado no Diário de Notícias da Madeira no dia 13/ 2 / 2020

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Nelson Mandela
Tudo é considerado impossível até acontecer.

Miguel Albuquerque
Quem manda em democracia é o povo. Não é meia dúzia de iluminados.

( Mas será que o PSD perguntou ao povo se queria mais jaulas na Ponta do Sol e na Calheta. É só um exemplo entre muitos outros.
                                                                                                                                               11/2/2020

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

AGRESSÕES A PROFESSORES

Li com atenção a carta de leitor de Lícínia Romeira: INDIGNAÇÂO. Como eu a compreendo! Sou professora aposentada e estive muitos anos exposta aos perigos dos que, em casa dos pais, só receberam maus exemplos e levam para a escola a deseducação que receberam. Nunca fui agredida fisicamente e ainda bem.
Só gostava de dizer à colega Licínia que os actos agressivos não têm nada a ver com igualdade. Somos todos seres humanos, com deveres e direitos, os professores não batem nos alunos, nem devem fazê-lo e os alunos não podem bater nos professores nem noutras pessoas. Isso é crime.
Também me recuso a aceitar que o aluno que agrediu uma professora na Ponta do Sol apenas tenha uma pena de 10 dias de suspensão! Foi o Secretário da Educação que decidiu assim? Além do mais, segundo ouvi através da TV, o aluno já ultrapassou a idade de estar incluído na escolaridade obrigatória. Não seria melhor ficar em casa ao pé do pai e da mãe e, se mais tarde ganhar juízo, voltar a estudar como adulto?
Todavia, creio que as raízes destes problemas são mais profundas. Vivemos num mundo competitivo e agressivo, com guerras, corrupção, fraudes e aos que mais roubam chamam-lhes PESSOAS BEM SUCEDIDAS.
No governo de Passos Coelho, esse, que até nos chamou PIEGAS, houve um pretenso exame para professores principiantes que foi uma armadilha completa, com questões que só poderiam ser respondidas por licenciados em matemática ou história, por exemplo. Eu não me considero incompetente, mas não saberia responder a algumas daquelas questões. Aquele teste serviu para expulsar muitos professores do ensino e os responsáveis por esses exames ainda tiveram a ousadia de dizer em público que os professores que fizeram o teste mostraram que eram incapazes, pois até fizeram erros ortográficos. Eu gostava de fazer um teste de ortografia a essas pessoas e veria quantos erros eles fariam.
A sociedade ouviu estas afirmações e muitos encarregados de educação pensaram que os filhos e filhas tinham professores incompetentes, incapazes de ensinarem os seus filhos. E estas desconsiderações espalharam-se, ganharam força e chegámos à situação presente.
E, se recuarmos mais alguns anos, muitos de nós ainda se lembram de ouvir na TV, em alto e bom som: “quando esses senhores chegarem… não chamem autoridades, não chamem a polícia. Façam justiça por suas mãos”
Palavras destas, proferidas por um governante, deram os seus frutos.
Conceição Pereira
                            Este texto foi publicado no Diário de Notícias da Madeira no dia 30/1/2020


Este texto foi publicado no Diário 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020


GRAÇA TOMÉ
Neste mês de Janeiro, chegou-nos a notícia que faleceu a Graça Tomé, esposa de Mário Tomé. Sabíamos que ela estava mal. Passou os últimos anos de vida a sofrer com uma doença incapacitante, que não lhe permitia o mínimo de autonomia.
O marido cuidou dela, de dia e de noite, fez o seu melhor e acompanhou-a até à última hora. Os esposos juram um ao outro, na hora do casamento, se amarem e respeitarem, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Nem todos cumprem, mas alguns levam o seu juramento até ao fim. Tenho a certeza que Mário Tomé acompanharia sempre a sua Graça, amá-la-ia até ao fim, mesmo sem juramento, porque é um homem de bem e apaixonado pela mulher com quem casou.
Há já alguns anos, Mário Tomé veio à Madeira falar sobre a sua experiência como capitão de Abril e a Graça acompanhou-o. Creio que foi a última vez que o fez aqui na Madeira. Após a conferência, eu e a Graça, com mais camaradas, refugiámo-nos na outra sala da UDP e lá nos divertimos a cantar canções de Abril e outras anteriores, de José Mário Branco, Zeca Afonso e outras, canções essas que muitas vezes foram cantadas de forma discreta e nos davam ânimo na luta pelo fim da ditadura. Foi um dia inesquecível.
Adeus, Graça! Partiste, mas tens sempre lugar nos nossos corações. Para o camarada e amigo Mário Tomé, um abraço do tamanho da nossa amizade e peço-te que não desistas de ser meu amigo nem do compromisso que temos de lutar por um mundo melhor.
Conceição Pereira
                                        Este texto foi escrito em Janeiro de 2019

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020


FOOTBALL LEAKS

Rui Pinto, pirata informático, está preso. Entrou clandestinamente em computadores alheios e isso é crime.
A justiça portuguesa prendeu-o por ter agido criminalmente. No entanto, ele descobriu falcatruas em alguns clubes, mas a justiça e o poder político não querem saber disso. Se for averiguado o que se passa nesses clubes, talvez que o Estado Português consiga reaver verbas de fuga a impostos, por exemplo, verbas essas que poderiam ajudar a melhorar a nossa vida social. Temos um país pobre, uma região com muita pobreza e vejo falta de preocupação em cobrar aos que podem e devem pagar. Quem mais paga são os trabalhadores e reformados. A nós ninguém nos perdoa nada.
Todavia, se há falcatruas em clubes também há criminosos que devem ser punidos. Por que razão o Rui Pinto é punido e os outros criminosos não o são? Ao menos ele trouxe à luz do dia a corrupção que se esconde nesses lugares! E quem esconde ou finge ignorar crimes o que é? Pessoa de bem?
Estou a falar do Football Leaks e entrou também em cena o Luanda Leaks, que parece trazer consigo, não apenas angolanos, mas também portugueses. Vão ser punidos? Há anos veio a público o Swiss Leaks, que também envolvia contas de portugueses, mas nunca soubemos quem eram. Em Portugal foi abafado. Antes disso, houve o problema dos submarinos que o senhor Paulo Portas encomendou quando era Ministro da Defesa. Noutros países houve julgamentos e pessoas castigadas, mas em Portugal passou-se sobre isso como gato sobre brasas e ninguém ficou queimado.
É o país dos brandos costumes para as grandes ratazanas. Para a arraia miúda sobra a exigência nos impostos, os baixos salários, as reformas de miséria, o sistema de saúde cada vez mais degradado, escolas e bairros sociais com amianto e muitas outras desgraças e opressões. E os corruptos e seus comparsas que apoiam tudo isto enviam milhões de lucros para os paraísos fiscais, deixando o país cada vez mais depauperado.
A burguesia portuguesa sempre foi e é parasita e anti-patriótica.
Conceição Pereira
                                  Este texto foi publicado no Diário de Notícias a 22/ 1 / 2020

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020


CINQUENTA E DOIS MILHÕES
O que seria possível fazer com 52 milhões de euros? Poderíamos, por ex., construir hospitais, lares para idosos, creches e jardins de infância, remover amianto dos bairros sociais, empregar verbas para investigação na universidade, entre muitas outras realizações para proveito da sociedade madeirense.
Segundo reportagem do DN da Madeira do dia 13/1/2020, a Segurança Social da Madeira deixou prescrever 52 milhões no período de 2013-2015, no último Governo de AJJ. No ano de 2015 foram remetidos para o Ministério Público 6 processos para cobrança de dívidas e, após este governo sair, a situação mudou muito. Em 2016 foram enviados 72 processos para o Ministério Público, em 2017 foram 60, em 2018 79 e em 2019 55 processos. Mas muitas destas dívidas prescreveram por serem enviadas ao M. Público tardiamente.
O que poderemos aferir destes dados? Que antes de 2015 houve laxismo? Que alguns prevaricadores eram amparados por alguém que não lhes fazia cobrança de dívidas? Será? A Senhora Secretária Regional que tutela a S. Social alega falta de meios humanos e informáticos para detectar incumprimentos em tempo útil. Eu penso que qualquer economista ou outro funcionário responsável nesta área repararia a falta de  entrada de verbas avultadas na Segurança Social em termos globais. E depois começavam a investigar.
Outro aspecto que salta à vista é que estes meios técnicos e humanos são da responsabilidade do Governo da República, enquanto que a governação política é da responsabilidade do Governo Regional.
Segundo a reportagem que trouxe estes dados a público, o Tribunal de Contas “avaliou como gravemente negligente” procedimentos de funcionários da Segurança Social. E o que aconteceu a esses funcionários? Acontecem prescrições e atrasos nos pagamentos que dão prejuízos e ninguém é responsabilizado? Fica por isso mesmo? Quem sabe se alguém fez uns favores especiais a gente que não cumpre com as suas obrigações? As chefias e o poder político deixam passar em branco estas falcatruas? Será que houve interesses pessoais no meio disto tudo?
Se uma instituição sem fins lucrativos não pagar a Segurança Social é punida rapidamente. Mas os grandes ficam impunes, talvez por serem protegidos pelo Poder ou porque também fazem parte do Poder.
E quem são estes caloteiros? A reportagem não os identifica. Estão escondidos atrás de poderes e favorecimentos. Não é qualquer um que deve milhões impunemente. Os empresários são colocados à nossa frente como uns beneméritos, porque criam postos de trabalho. Até parece que o objectivo dos empresários é beneficiar os trabalhadores! Triste ilusão. Eles abrem empresas a pensar nos lucros e empregam trabalhadores porque precisam deles. Não me tratem por estúpida.
A nossa inteligência tem de funcionar antes de colocarmos no poder pessoas que só favorecem os interesses de alguns e que têm desgraçado a Madeira desde sempre.
Conceição Pereira

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020


O PSD ESTICA O PESCOÇO

Depois da dívida escondida, depois de a RAM ser colocada no PAEF por conta das dívidas e ser obrigada, pelo Governo de Passos Coelho, também do PSD, a pagar juros pesados por conta dessa mesma dívida, depois de perder seis câmaras na RAM para outros partidos e coligações, depois de ter perdido maioria absoluta nas eleições regionais, depois de tanto clamar contra o Governo da República, apresenta-se novamente com a altivez do costume, confrontando tudo e todos com a sua verborreia: “Como o PSD quer, vai ganhar” afirma o Senhor Prada.
Quem fala assim não é gago. O Senhor Prada só gaguejou no Montado do Chão da Lagoa. Mas isso foi um momento de aflição ou nervosismo do momento. Na entrevista que deu ao DN estava calmo, senhor das suas verdades e sabedoria. E, como podemos observar, o circo está montado para as eleições autárquicas de 2021. Não sabemos se irá ou não com o CDS, mas a procissão já chegou ao adro, talvez com a permissão do Senhor Bispo. Ou sem permissão.
A Sociedade de Desenvolvimento da Madeira premiou alunos de Machico e Caniçal com dinheiro e computadores e lá estava o Senhor Calado a representar o Governo Regional. Estariam a fazer campanha para reconquistarem a Câmara de Machico? O Senhor António Fontes, que em tempos escreveu cobras e lagartos contra o PSD/M, também foi à Quinta Vigia, em representação do Clube Naval. Que bonito? O que é que mudou na Quinta Vigia para o Senhor António Fontes se vergar agora ao poder de Miguel Albuquerque?
Pensando nas Câmaras da Madeira, que em 2013 estavam endividadas e dependentes do PAEL, agora já estão em melhores condições económicas, uma vez que as actuais equipas que dirigem as Câmaras têm vindo a pagar dívidas, os fornecedores já não têm créditos atrasados e, segundo o DN de 6/1/2020, o Pribunal de Contas confirma rigor financeiro da CMF. E o Senhor Prada ainda é capaz de dizer: “ O Funchal nunca esteve tão mal como está agora.”  Nesse momento devia estar a pensar no desastre que o PSD fez pela Ribeira de Santa Luzia abaixo, colocando aqueles barrotes de cimento bem no centro da cidade.
O Senhor Prada afirmou há tempos que o PSD é um partido de VERDADE. Vejamos, por ex, as declarações de um secretário regional sobre o roubo das pedras da Ribeira dos Socorridos: primeiro negou o que estava a acontecer, depois afirmou que a AFAVIAS estava a trabalhar para a Levada dos Piornais, entretanto acusou o prof. Hélder Spínola de ignorante, para no fim constatarmos que a AFAVIAS estava a escavar a Ribeira dos Socorridos de forma ilegal e devastadora. Isto é um partido que fala verdade?
Continuadamente, o PSD/M diz-nos que a economia na RAM está a crescer há muitos meses. E para onde vão esses milhões? Na Madeira não devem ficar. Segundo li no JM, a pobreza na Madeira é preocupante. O número de nascimentos continua a baixar. Porquê? Uma das razões deve ser a falta de condições para os casais novos criarem filhos, inclusivamente pelas despesas que as crianças pequenas acarretam.
Mas o PSD está pronto a atacar em 2021. “Eu não entro em nenhum projecto para perder”. Afirma o senhor Prada. E se perder? Será que os munícipes já se esqueceram do que era a governação do PSD nas Câmaras? Será que os fornecedores não se lembram do tempo que abasteciam as câmaras e que o PSD não se preocupava em pagar as compras? Será que no tempo do PSD na Câmara do Funchal os munícipes carenciados recebiam apoio para medicamentos e rendas de casa como agora? Segundo o DN da Madeira, a CMF atribuiu 759 mil euros em manuais escolares e bolsas de estudo. Isto acontecia no tempo em que o PSD governava a Câmara do Funchal?
Ainda temos mais de um ano antes das eleições autárquicas. Vamos pensar bem nas nossas vidas, no bem das comunidades dos vários municípios e quando chegar a hora de votar havemos de agir em conformidade, usando a inteligência e a experiência que temos vivenciado ao longo dos tempos.
FELIZ ANO NOVO para todos e com boa governação, pelo menos ao nível do Poder Local.
Conceição Pereira